Fraca governança ao redor de novos produtos e o desastre potencial

Por Luciano Fantin.

Este artigo trata da bomba-relógio escondida nas instituições, toda vez que se é lançado um novo produto sem atenção devida à governança ao redor dessa vital iniciativa.

Uma frase que comumente se ouve em instituições financeiras, pelo pessoal do Back Office e/ou Contabilidade é “O pessoal do Front preenche o boleto e joga para trás, e a gente que se vire…”. Sabemos que por muitos anos, e em especial no caso das instituições menores, a frase mencionada representa adequadamente a realidade. No atual momento regulatório, porém, esse tipo de prática não tem mais lugar. Com o crescente escrutínio dos órgãos reguladores dos controles e processos das instituições financeiras, torna-se impensável “jogar o boleto para trás”.

A quantidade de informações acessórias aos fechamentos contábeis é muito grande, e os sistemas nem sempre possuem a inteligência ou granularidade suficiente para o adequado tratamento e preparação de tais informações. Não bastasse isso, à margem dos relatórios comumente exigidos, não são raras as indagações por exemplo do Banco Central do Brasil, ao monitorar flutuações de saldos.

A quantidade de peculiaridades do mercado brasileiro, no que tange aos seus produtos diversificados e sua regulamentação volátil, tornam as coisas ainda mais difíceis para o bom cumprimento das exigências de informações. Diferentemente de mercados desenvolvidos, onde produtos novos raramente surgem nos mercados e as regras mudam de forma muito lenta e com amplo prazo para adaptação, no Brasil a situação é muito diferente. Exatamente por isso é que se faz ainda mais necessária a boa atenção a práticas de governança que envolvem, sobretudo, o bom senso.

Todos sabemos que muitas vezes se torna economicamente inviável customizar um sistema ou mesmo desenvolver uma aplicativo para um produto que se está pensando em comercializar, sem saber se o mesmo dará retorno ou não. Não é errado optar-se por uma abordagem “passo-a-passo”, ou seja, optar por tais investimentos uma vez que alguns negócios-piloto se provem lucrativos. Não obstante, é fundamental que todas as áreas envolvidas sejam devidamente ouvidas, de maneira metodológica e com correta formalização, antes de se iniciar qualquer comercialização. Os impactos, muitas vezes conhecidos apenas por aqueles técnicos que conhecem profundamente sua área de atuação, podem esconder riscos muito relevantes e devem poder ser debatidos a priori. A solução, então, não é complexa, tampouco exige investimentos gigantescos.

A mesma passa por uma reavaliação cultural e processual de todos os agentes internos, que deverão ser reeducados para uma nova e mais robusta governança envolvendo produtos. O ganho é incalculável. Sabe-se que mesmo organizações muito bem estruturadas e com altos padrões de controle e metodologias robustas para implementação de novos produtos, padecem vez ou outra por erros não intencionais, levando a prejuízos relevantes, tanto financeiros quanto de imagem.

SP Abril de 2013.

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